Nem sempre chegam as palavras. Nem sempre as temos no bolso, à distância de um agarrar repentino e de um entrega direta. A boca dirige-nos diariamente, atribui-nos um lugar e espalha o mundo dentro do mundo.
Estamos em plena roda viva e é impossível afastarmo-nos da ideia de que caminhamos em colisões constantes, numa realidade dura e fria onde a escuta é frágil, com poucas mãos dadas e poucos olhares fixos nos olhos vizinhos.
À nossa volta tudo se comprime, acreditando num avanço que mais se compara a um fastforward a tempos não assim tão longínquos, negligenciando o sentido de comunidade e coletivo, esquecendo de que a união se traduz em infinito... E o infinito é sempre o único destino possível.
O corpo é o maior espaço que temos, com o qual precisamos de ficar e solidificar, com o qual temos de resistir e escolher. O corpo entende o que seguir, acreditando que todos estes corpos partilham a ideia da mais bela condição possível: a liberdade.
Materializemos esta ideia, para que a ideia se estenda no corpo?
Este 4º PEDRA DURA atravessa-se no nosso caminho de forma mais reduzida, abrandando o ritmo incessante que nos inundava o peito. Mas o abrandamento não implica paragem, mesmo quando o vento sopra ao contrário. Talvez este abrandamento que nos chegou seja o mais acelerado que tenhamos visto.
Convidamos então à contínua contemplação destas danças entre pedras e dos rastos que nos deixam, permeando-nos ao sensível e ao invisível que se vê cada vez mais nítido. Propomos uma viagem expansiva: entre nós pessoas, entre nós espaço, entre nós desejos.
Encontrar formas de fazer e pensar o presente, conscientes de que somos tantos e tão poucos para tanto, mas que habitamos o lugar das possibilidades, e isso é o poder da metamorfose.
Dançar sempre, até de manhã. Dançar sempre, pela liberdade. Dançar sempre, mesmo que não nos deixem. Dançar é sempre o para sempre.
Quer sejamos metade corpo, metade fendas e quebras, metade tentativa ou sopro, metade falha ou metade recusada, o que sobra será sempre METADE FUTURO.
Daniel Matos
Codireção artística
Pedra Dura
Festival de Dança do Algarve
4 a 9 de Novembro 2025